Apenas mais um dia 8 de março

Vanessa Gonçalves
Mulheres de Produto
7 min readMar 7, 2022

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Todos os anos no dia 8 de março comemoramos o dia das Mulheres, mas o que acontece antes desse dia e depois? Esse artigo é uma observação do mundo real e dos outros dias do ano.

Dribble:Marina Vishtak

Todo ano, temos as datas comemorativas, e eu como embaixadora do Mulheres de Produto, junto com as demais, ficamos pensamos o que vamos fazer para trazer mais visibilidade para as mulheres. E nesse dia, o mundo olha para as mulheres, dão voz a elas, são ouvidas, ovacionadas, mostram a força feminina e dão respeito. Mas é apenas um dia, o que acontece nos outros 364 dias do ano? Ai meu amigo e amiga, é só labuta, como dizia minha vó. A gente da ONG traz voz para as mulheres o ano inteiro, mas se todos fizessem isso também?

Aqui vai uma reflexão com dados e informações, para os desavisados de plantão:

No dia 8 de Março, comemoramos o dia Internacional da mulher, uma data oficializada pelas Organização das Nações Unidas, para a luta do direto de igualdade salarial. Porém atualmente virou uma data para lutar para todos os direitos que as mulheres precisam perante ao homem. Foram décadas de engajamento político das mulheres pelo reconhecimento de sua causa.
O Dia Internacional da Mulher não é um mero dia voltado simplesmente a homenagens triviais às mulheres, mas diz respeito a um convite à reflexão referente a como a nossa sociedade as trata. Essa reflexão vale tanto para o campo do convívio afetivo, familiar e social quanto para as questões relacionadas ao mercado de trabalho. — Brasil escola

Um estudo levantado pela Global Gender Gap Report de 2020, mostra que a diferença salarial de gêneros no Brasil é ainda significativa, fazendo o Brasil integrar a 130º posição no ranking. E segundo o IBGE de 2019, uma mulher negra recebe em média 44,4% da renda média dos homens brancos, onde estão no topo da escala salarial.

Todos esses dados significa que existe uma alta taxa de entradas de mulheres no mercado de trabalho brasileiro, porém não é acompanhada na diminuição das desigualdades profissionais entre homens e mulheres. Tendo em vista que a maior parte dos empregos formais femininos estão em setores e cargos de menor valorização.

De acordo com a Agência Patrícia Galvão (2020),40% das mulheres dizem que já foram xingadas ou já ouviram gritos no trabalho, contra 13% dos homens que vivenciaram a mesma situação.

Eu posso ficar aqui e falar muito mais dados para vocês, mas a gente que ver o mundo real, porque não somos apenas números.

Essa semana, estava num café com uma ex- colega/chefe de trabalho e ficamos conversamos como era ser mulher na área de tecnologia. E escutando ela falar, junto com as demais conversas com outras mulheres ao longo da minha vida, descobri ou caiu a ficha, temos os mesmos problemas, não com nós mesmas, mas como a sociedade se porta conosco. Nós estamos sempre no 220 volts, trabalhando demais em um emprego que acabamos de chegar, queremos mostrar resultado e sempre, sempre achando que não estamos fazendo o máximo ou o básico. Sempre tem algum homem melhor que a gente. Nossas vitórias? Nunca foi pelo o esforço que colocamos no nosso objetivo, sempre foi um homem que nós ajudou alcançar.

Mas pera lá, nada contra ao homens aqui, só estou mostrando o nosso mundo real. E aqui vai uma dica, pergunte para sua esposa, namorada, amiga ou colega de trabalho "Alguma vez você sofreu algum preconceito?" ou se você tiver com coragem e com o coração aberto é "Já te fiz passar por alguma situação constrangedora? Já te interrompi?". Muitas das situações que as mulheres vivem no dia a dia, não é perceptível para nós mesmas.

Eu, que vos falo aqui e escrevo também, sofri um bucado de situações e depois de dias, meses e até anos, percebi que determinada situação foi constrangedora. Nós mulheres estamos tão acostumado com isso no dia a dia que passa, queremos focar no nosso trabalho, mesmo isso ficando no fundo da nossa cabeça. Além de todos os medos que passam. Se eu falar algo, vou ser considera X, se eu reclamar Y. Estamos a todos os momento tentando não encaixar em algum estereotipo, que alguém falou que é ruim.

Sabe aquela imagem onde tem duas pessoas, uma segurando cada ponta do elástico e uma diz, ninguém pode soltar senão alguém vai sair machucado? Então, as mulheres nunca soltam.

Uma vez escutei de um antigo colega de trabalho, que não deveria existir cota racial do mesmo jeito que não deveria existir vagar apenas para mulheres. No momento, eu argumentei contra, falei de dados e no final eu estava debatendo para o nada. Sabia que não iria me escutar ou até mesmo pensar naquilo. E parei. Parei porque entendi que não sou uma escola ambulante que precisa ficar ensinando todos sobre o porque do feminismo, da igualdade, dos direitos. Parei, porque me sinto cansada de enfrentar todos sem ao menos alguém me escutar. Parei, porque eu to numa constante de aprendizados, sempre buscando conhecimentos e ao meu redor, homens si quer querem aprender algo. Eu só parei, mas faço o meu. Luto pelas mulheres, dou voz a elas, no trabalho, em casa, na rua em todos os lugares.

Um coisa eu sei, que como mulher branca e que trabalha em tecnologia, tenho os meu privilégios. Quando saimos da nossa bolha de Tech, vemos uma outra bolha, por assim dizer, tão diferente da nossa. E eu, com todo o meu privilégio não me sinto escutada, quem dirá as outras mulheres com sua minoria em particular.

Minoria substantivo feminino, condição do que é numericamente inferior a outro. Não gosto da palavra minoria, no Brasil segundo o IBGE somos 52,2% da população. Isso não bate com a palavra minoria, não somos um grupo menor, somo um grupo grande. Mas ainda sim, costumam falar que tem minorias por ai, sei que é um termo que refere-se, na sociologia, a grupos sociais historicamente excluídos do processo de garantia dos direitos básicos por questões étnicas, de origem, por questões financeiras e por questões de gênero e sexualidade.

Esse é apenas um reflexão de como é o mundo real das mulheres, mas aqui vai um pedido meu. Se você é homem independente onde e ou que cargo você exerça pense fora da sua bolha. Para vocês situações, palavras ditas podem parecer comum/usual, mas para nós tem um peso maior, por toda a nossa caminhada. Então, pense antes de falar ou tomar uma atitude. Seja parceiro de outras mulheres, lute conosco, debata assuntos que são tabu, de voz as mulheres que trabalhem com você. Nesse meio caminho você vai errar, mas se tiver fazendo seu melhor a gente vai perceber e te ajudar a evoluir.

Em suma, depois de tanto escrever e pensar, gostaria de dar um conselho para todas as mulheres, mas nem eu mesma sei. Te dizer que não vai ser fácil toda a nossa caminhada, mas quando eu penso nas próximas gerações, eu continuo na minha luta. Saiba que existe outras mulheres passando pelo o que você esta passando, converse com ela. Estamos todas juntas nesse barco e devemos remar para juntas para conseguir chegar na praia.

E se você chegou até aqui, obrigada e me desculpe por algo que foi dito que ofendeu de alguma forma você, de coração não é a intenção do artigo.

Eu selecionei algumas ONGs que você pode doar e que precisam muito da ajuda de todos.

  • Associação Fala Mulher

Localizada em São Paulo, a Associação Fala Mulher atua fornecendo atendimento a mulheres, crianças, adolescentes e idosos que foram vítimas de violência doméstica. A instituição ainda oferece auxílio jurídico, psicológico, educacional e social, e fornece abrigos sigilosos para proteção da vítima e seus filhos em risco de morte.

  • Instituto Barbara Penna

Com sede no Rio Grande do Sul, o instituto leva o nome da vítima de violência doméstica que resolveu transformar sua história em uma grande rede de apoio. Além de prestar assistência e conscientização sobre a violência contra a mulher, a ONG tem o objetivo de fiscalizar o cumprimento da Lei Maria da Penha e também incentivar a quebra do silêncio e as denúncias aos casos de violência. Ao entrar no site do Instituto, você encontra um espaço possível para solicitar apoio em caso de necessidade.

  • Artemis

Fundada em 2013, seus valores são baseados no tripé sugerido por Gandhi: a Verdade, a Autonomia e a Não-Violência. Além de combater a violência doméstica, a Artemis visa promover a autonomia feminina e contribuir para pôr fim a todas as formas de violência contra as mulheres. Além disso, a fundação disponibiliza cursos e acervos para contribuir na conscientização e reflexão da sociedade sobre a realidade de vida da mulher.

  • Associação Fênix

A Associação Fênix foi fundada em 2006 para combater a violência doméstica e lutar contra a violência sexual. A ONG também busca promover a socialização e o atendimento psicossocial a crianças e jovens que convivem com o vírus HIV. Além de dar apoio às mulheres, ela oferece oficinas e atividades lúdicas para crianças, reforço escolar, atendimento psicológico, aconselhamento e assistência jurídica.

Ah, e se você quer ler e entender um pouco do universo feminino e suas lutas, aqui vai algumas dicas de livros e palestras:

Livros

  • Sejamos todos feministas — Chimamanda Ngozi Adichie
  • Quem tem medo do feminismo negro? — Djamila Ribeiro
  • O feminismo é para todo mundo: Políticas arrebatadoras — Bell Hooks
  • O mito da beleza: Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres — Naomi Wolf
  • Clube da luta feminista: Um manual de sobrevivência (para um ambiente de trabalho machista) — Jessica Bennett

Palestras

E se você ficou até aqui, realmente acabou! Espero ter ajudado em algo.

Se quiserem conversar sobre a area de produto, tecnologia ou até mesmo a vida pessoal, meu linkedin fica disponível.

Abraços!

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